Sexualidade no Pós-Parto
Puerpério e Sexualidade: Amamentação, Depressão Pós-Parto e Relacionamento Conjugal
Muitas mulheres vivenciam dificuldades sexuais após o nascimento do bebê. Esse fato pode gerar ansiedade, sofrimento e vários questionamentos, como:
Por que não tenho desejo sexual? Por que tenho dor à penetração? Esses sintomas irão durar muito? Existe algo que posso fazer? Como posso fazer meu parceiro(a) entender esse momento que estou vivenciando? Com quem posso conversar sobre isso?
Muitas vezes o foco das atenções no período puerperal se encontra na relação mãe-bebê, e a mulher, frequentemente, se sente desamparada para levar aos obstetras, amigas e familiares questões que a angustiam como cansaço, falta de desejo sexual, dor à penetração, estresse e insatisfação. Muitas acreditam que nada pode ser feito ou se sentem culpadas por terem essas queixas e, portanto, não buscam ajuda.
Porém, se a via de parto parece ter uma influência menor na vida sexual da mulher no pós-parto após seis meses a um ano (assunto abordado em outra página), três fatores têm uma influência bem mais acentuada na vida sexual da mulher: a amamentação, a depressão pós-parto e a qualidade da relação afetiva. Esses fatores são extremamente importantes na predição se a mulher terá menor libido, mais dispareunia (dor à penetração), mais ressecamento vaginal, menor excitação, menor frequência sexual e menor satisfação na relação sexual.
A dor a penetração é uma queixa que acomete aproximadamente metade das mulheres no pós-parto.
A amamentação é um ato considerado dos mais importantes por seus aspectos nutritivos, fisiológicos e psicológicos. Porém, na amamentação, o ambiente hormonal é todo voltado para que a mulher priorize o bebê e não o sexo.
Ocorre o aumento da prolactina e ocitocina (hormônio da saciedade) e a diminuição de progesterona, testosterona e estrogênio. O resultado desse ambiente hormonal é: menor libido, menos lubrificação, mais ressecamento vaginal, mais dor a penetração, maior saciedade e refratoriedade sexual, e menos satisfação.
Esses efeitos tendem a diminuir a medida que as mamadas são reduzidas, ou seja, o período mais acentuado é quando a amamentação é exclusiva. E após a interrupção da amamentação, a frequência sexual costuma aumentar significativamente em 4 semanas.
Os efeitos da amamentação não se restringem aos impactos hormonais, mulheres que amamentam se sentem mais cansadas, pois não podem dividir a tarefa de alimentar o bebê com outras pessoas. O cansaço e o sono inadequado são importantes inimigos da sexualidade! Por isso, saber pedir ajuda, dividir tarefas e contar com uma rede de apoio (como familiares ou babá) pode ser uma importante ferramenta para a saúde mental e prevenção de problemas sexuais.
Alguns parceiros não lidam bem com as mudanças na dinâmica da casa com a vinda do bebê e se sentem enciumados da relação mãe e filho, o que pode gerar uma maior demanda por sexo e mais sofrimento para a mulher. Em oposição a isso, muitas mulheres suprem suas necessidades de afeto e carinho com a amamentação e se sentem menos receptivas ao afeto conjugal.
Fatores como auto-imagem comprometida, ou seja, a insatisfação com o corpo, mudanças de humor e qualidade da relação afetiva também são importantes fatores que podem impactar a sexualidade nesse período. O medo de engravidar novamente, caso a mulher não esteja fazendo uso de contraceptivos, pode ser um aspecto que dificulta ainda mais a receptividade ao sexo. Outro aspecto que contribui para a dor a penetração é a antecipação e o medo da dor, que resulta em maior ansiedade e menor excitação sexual. O medo do filho acordar e não ouvir é outro dificultador da vivência plena da sexualidade nesse período.
Apesar de metade das mulheres apresentarem labilidade emocional (oscilações de humor) após o parto, a depressão pós-parto é uma doença que acomete em torno de 10 a 15% das mulheres e é, muitas vezes, subdiagnósticada e subtratada. Na depressão pós-parto ocorre baixo desejo sexual e menor frequência sexual. A privação do sono contribui para a depressão pós-parto e para a falta de vontade para o sexo.
A qualidade da relação afetiva, a adaptação do casal aos novos papeis e o desejo do parceiro(a) também são importantes preditores da qualidade da vida sexual nesse período.
O conhecimento em relação as mudanças normais que estão ocorrendo no corpo e as repercussões na vida sexual contribuem para reduzir a sensação de catastrofização!
As mudanças são fisiológicas (normais do período), temporárias e não configuram nenhuma doença!
Independente da amamentação, as repercussões na vida sexual dificilmente se estendem por mais de um ano e, enquanto isso, o casal deve usar lubrificantes, hidratantes vaginais e formas alternativa de vivenciar a sexualidade adaptadas a esse momento de vida.
Se as repercussões dessa fase forem vivenciadas com sofrimento ou houver dificuldades de comunicação entre o casal, eles devem buscar a ajuda de um sexólogo.
Referências
1) Johnson, C.E. Sexual health during pregnancy and the postpartum. J Sex Med. 2011, 8: 1267-1284.
2) LaMarre, A.K., Paterson, L.Q.,Gorzalka, B.B. Breastfeeding and postpartum maternal sexual functioning: a review. The Canadian Journal of Human Sexuality. 2003, 12(3-4): 151-168.
3) Leeman, L.M., Rogers, R.G. Sex after childbirth. Obstetrics & Ginecology. 2012, 119: 647-55.
4) Matthies, L.M., Wallwiener, M., Sohn, C. The influence of partnership quality and breastfeeding on postpartum female sexual function. Archives of Gynecology and Obstetrics. 2018. https://doi.org.10.1007/s00404-018-4925-z
5) Serati, M., Salvatore, S., Siesto, G. Female sexual function during pregnancy and after childbirth. J Sex Med. 2010,7:2782-2790.
6) Abdool. Z. Postpartum female sexual function: a review. Eur J Obstet Gynecol, 2009. doi: 10.1016/j.ejogrb.2009.04.014